domingo, 13 de setembro de 2009

POR QUE NÃO DEVO ACASALAR UM CÃO ADOTADO?

Inicialmente, é interessante partir de alguns fatos.

1)Existe uma superpopulação canina, não só no Brasil, mas no mundo. Aqui no Brasil, a situação é bastante preocupante, vez que não existem políticas públicas de incentivo à adoção, e os cães de rua em geral são exterminados por representarem um risco à saúde pública. Assim, temos muito mais cães sem dono do que donos disponíveis para adotá-los.

2)O que define um cão de raça é a sua previsibilidade. Previsibilidade consiste em saber, de antemão, aproximadamente como serão as características físicas e temperamentais de um cão. Obviamente, existem desvios, mas, se adquirimos um Labrador, esperamos que ele seja um cão de porte médio-grande, com pêlo médio e subpêlo denso, de temperamento dócil e confiante. Se adquirimos um Pastor Alemão, esperamos que tenha grande porte, pelagem espessa e abundante, temperamento estável e grande territorialidade.

3)Para atingir a previsibilidade, é necessário haver uma seleção. Ou seja, só podemos prever aproximadamente como serão as raças porque, ao acasalá-las, os bons criadores selecionam os exemplares que mais se aproximam do ideal da raça – tanto em termos físicos, quanto de temperamento.

4)Cães não precisam acasalar, fisiologicamente falando. Ao contrário do que acontece com as mulheres, nas cadelas a prenhez não reduz as chances de câncer de mama – a única prevenção comprovada de câncer de mama, bem como de útero e ovários, em cadelas, é a castração antes do primeiro cio. O acasalamento não traz nenhum benefício de saúde para a cadela. Da mesma forma, com os machos, o instinto de acasalar só aparece diante da fêmea no cio. Se não acasalarem, não haverá qualquer prejuízo.

5)Criar uma ninhada de forma correta e responsável custa muito dinheiro e muito trabalho. O custo estimado, por filhote, considerando-se os gastos com a manutenção da cadela, é de cerca de mil reais. Além disso, é necessária atenção constante por parte do dono, para evitar uma série de incidentes que podem culminar na morte dos filhotes. Encontrar bons donos para todos eles é muito difícil, e criadores responsáveis freqüentemente são obrigados a pegar de volta cães que venderam ou doaram porque os donos os maltratam ou não podem ficar com eles.

Então, chegamos à questão dos cães adotados. Via de regra, cães colocados para adoção, mesmo tendo pedigree (lembrando que o pedigree garante pureza racial, mas não garante conformação ao padrão, nem físico, nem de temperamento) não são de boa procedência – se fossem, o próprio criador se encarregaria de recebê-los de volta. Muitas vezes, são cães com alguns problemas de comportamento – excessivamente agitados, agressivos, ou medrosos.

No caso dos cães doados por canis, se estão sendo doados, e não, vendidos, é porque ou já saíram da idade reprodutiva, ou possuem sérios desvios do padrão ou problemas físicos. Não estamos, obviamente, nos referindo aos casos de co-propriedades e parcerias. De qualquer forma, não são cães adequados à reprodução, ou teriam sido destinados a esse fim pelo próprio criador.

Portanto, ao acasalar cães adotados, está-se a acasalar sem qualquer critério de seleção, simplesmente por se tratar de macho e fêmea. A tendência desse tipo de acasalamento, a longo prazo, é deteriorar a qualidade da raça. Algumas raças, como Labrador, Rottweiler, Cocker Spaniel ou Poodle, já sofrem hoje graves conseqüências de acasalamentos impensados. Cães que fogem completamente ao padrão físico, ou, pior, temperamental da raça. Cães que não atendem ao requisito da previsibilidade.

Então, algumas pessoas dizem: “Ah, mas previsibilidade não é importante!” Bem, se a previsibilidade não é importante para alguém, o melhor que essa pessoa pode fazer é adotar um cão sem raça definida, um mestiço, ou mesmo um dos cães de raça fora do padrão, como tantos disponíveis para adoção (lembram-se do fato número 1, no começo do texto?). Não faz sentido acasalar, e aumentar a superpopulação, se não existe um objetivo de preservar essa previsibilidade das raças.

Por essa razão, se você pretende iniciar uma criação, procure um bom criador, escolha cães de boa procedência, estude sobre a raça, aconselhe-se, e então você poderá realmente contribuir para seu aprimoramento. Se, porém, você está adotando um cão, de procedência desconhecida, ainda que seja de raça, seja consciente, e entenda que ele não é a melhor opção para ser acasalado.

Posse responsável: nós levantamos essa bandeira.

Texto escrito por Deborah Leão
Advogada, adestradora de cães, e proprietária de 2 cadelas da raça labrador